Feira do Produto Rural – Alto Paraíso (GO)

A cidade de Alto Paraíso de Goiás (GO), a aproximadamente 228 quilômetros de Brasília (DF), teve um sábado (17 de maio) de celebração e conscientização ambiental que superou as expectativas. Mesmo com chuva fina em um dos dias mais frios do ano, o evento de comemoração da Semana da Biodiversidade no Cerrado foi marcado por atividades educativas, o reconhecimento oficial da Trilha Caminho dos Veadeiros com a presença de autoridades e engajamento da comunidade local.

A iniciativa partiu do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) no escopo do projeto GEF Áreas Privadas, que promove a conservação, o uso sustentável da biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos em áreas privadas.

Semana da Biodiversidade no Cerrado

O evento do último sábado refletiu esse compromisso. A programação teve início pela manhã na Feira do Produtor Rural, tradicional ponto de encontro da cidade, que ganhou um toque especial de alegria. Apesar do clima adverso, a atmosfera foi de animação, com quase 30 crianças participando de oficinas de máscaras de animais do Cerrado e dançando ao som de canções populares. Um momento para se divertir e aprender sobre as espécies ameaçadas de extinção e a importância de cada um para a biodiversidade.

Crianças com as máscaras produzidas – Foto Luana Santa Brigida/Funatura

A manhã foi dedicada às crianças, com brincadeiras da cultura popular e atividades de educação ambiental. Suelma Ribeiro, analista ambiental do ICMBio e autora do livro Colorindo as plantas ameaçadas de áreas úmidas do cerrado — feito em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro — participou do evento. Além de distribuir a publicação, ela apresentou a obra para os pequenos e seus responsáveis com muito entusiasmo. Outro destaque foi o gibi Vida Livre, um sonho animal, do Ibama, que também encantou a criançada.

Semana da Biodiversidade no Cerrado – Foto: Luana-Santa-Brigida/Funatura

O período da tarde concentrou o reconhecimento institucional no Centro de Atendimento ao Turista (CAT). A solenidade oficializou a Trilha Caminho dos Veadeiros como parte da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso (Rede Trilhas) – uma política pública estratégica na conectividade da fauna e na conservação de biodiversidade.

A secretária de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA, Rita Mesquita, fez a entrega simbólica das plaquetas de sinalização. “Estamos aqui para celebrar um reconhecimento que ajudará a alavancar ações em prol da natureza. Esta política [de trilhas] tem a força que tem por conta da rede de pessoas. É uma rede de territórios ancorada numa rede de pessoas. Fico muito feliz de, depois de toda essa longuíssima história de trabalho de tanta gente, poder vir trazer esse reconhecimento oficialmente”, enfatizou Rita sobre o significado do ato. As plaquetas foram então entregues por ela ao presidente da Associação Caminho dos Veadeiros (ACV), Márcio Chapola, e ao prefeito de Alto Paraíso, Marcus Rinco.

Rita Mesquita (MMA) entrega plaqueta a Márcio Chapola (ACV) e prefeito Marcus Rinco.
Foto: Maurício Boff/Funatura

O prefeito Marcus Rinco celebrou o momento. “Essa é mais uma conquista aqui da nossa região, que tem sido a cada dia mais reconhecida e valorizada como um ponto de preservação, com atrativos turísticos voltados para o ecoturismo”, destacou. “Para nós, ser um pedacinho muito importante em um caminho tão bonito como é o Caminho dos Veadeiros, muito nos honra e orgulha”, complementou o secretário municipal de Turismo, Agnaldo Araújo.

A sinergia entre as UCs e a força da sociedade civil foram ressaltadas pela chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Nayara Stacheski. “A história do Caminho dos Veadeiros começa com a sociedade civil. E tudo que começa de baixo para cima tem muito mais chance de se perpetuar. O parque é parceiro e o Caminho dos Veadeiros é parceiro do parque, especialmente pela proximidade e complementaridade das nossas áreas”, disse. “A palavra-chave é gratidão por todas essas parcerias. Fico feliz e orgulhoso de ver a trilha saindo do papel”, emocionou-se o presidente da Associação Caminho dos Veadeiros (ACV), Márcio Chapola, representando voluntárias e voluntários idealizadores da trilha.

Julio Itacaramby (Funatura), Rita Mesquita (MMA) e Márcio Chapola (ACV) durante mutirão de sinalização de trecho urbano da Trilha Caminho dos Veadeiros. Foto: Lara Réquia/Funatura

Após a cerimônia, o espírito de “mão na massa” mobilizou voluntárias e voluntários em um mutirão para sinalizar o trecho urbano da Trilha Caminho dos Veadeiros. O evento deixou como legado a prova de que iniciativas que conectam a comunidade com a conservação do Cerrado têm o enorme potencial de fortalecer o ecoturismo sustentável na região e inspirar novas ações em defesa desse bioma tão precioso.

Financiado pelo Global Environment Facility (GEF), por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o projeto GEF Áreas Privadas tem a gestão financeira do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). No Cerrado é co-executado pela Fundação Pró-Natureza (Funatura) e na Mata Atlântica pela Associação Mico Leão Dourado (AMLD).

O Cerrado, que abrange cerca de 22% do território nacional, é crucial por abrigar 5% da biodiversidade mundial e por ser o berço das nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata). Contudo, com o avanço da fronteira agrícola, o bioma já perdeu aproximadamente metade de sua cobertura vegetal nativa, dando lugar principalmente a pastagens e grandes cultivos. É nesse contexto de urgência pela conservação que projetos como o GEF Áreas Privadas ganham relevância, atuando, entre outras frentes, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Pouso Alto.

Localizada em Goiás e abrangendo parte de Alto Paraíso, a APA de Pouso Alto é vizinha direta do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, formando um corredor ecológico vital. A Unidade de Conservação (UC) tem alta importância biológica, por abrigar espécies endêmicas e 45 ameaçadas de extinção, além de diversas fitofisionomias e processos ecológicos únicos. A APA, que também é lar de comunidades agroextrativistas, agricultores familiares e quilombolas detentores de vasto conhecimento tradicional, foi escolhida como área-piloto do projeto GEF Áreas Privadas. Ali o projeto executa, sob coordenação do MMA, ações focadas em quatro eixos temáticos: agroextrativismo, monitoramento da biodiversidade, ecoturismo e gestão territorial da paisagem.

A celebração em Alto Paraíso de Goiás (GO) reforça a importância da colaboração entre governo, sociedade civil e comunidades locais para a proteção do bioma. O sucesso da Semana da Biodiversidade no Cerrado e a oficialização da Trilha Caminho dos Veadeiros são exemplos de como a ação conjunta pode gerar resultados concretos e duradouros na conservação do patrimônio natural.