Vítimas do tráfico internacional, micos-leões-dourados resgatados são monitorados na Mata Atlântica do RJ
Durante o mês de agosto, 12 micos-leões-dourados foram soltos após serem resgatados pelo governo brasileiro do tráfico internacional em Togo (África) em 2024 e no Suriname (América do Sul) em 2023.
Após ficarem sob os cuidados do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), foram formados dois casais para cada soltura, sendo a primeira delas iniciada no dia 8 de agosto no município de Macaé (RJ).
A combinação das duplas privilegiou a diversidade genética, conforme explicou a médica-veterinária do CPRJ, Silvia Bahadian Moreira.
“Foram identificados muitos parentes nas mesmas apreensões. Na apreensão do Togo, havia pai, mãe, filho, irmãos, primos. Foi realizada a análise genética de todos os indivíduos e feita uma combinação dos melhores pareamentos, para que essa nova área onde os micos estão sendo reintroduzidos receba uma genética de boa qualidade para que a população possa crescer sem nenhum gargalo genético, sem nenhuma consanguinidade excessiva em relação aos grupos que foram reintroduzidos. Então, todos os animais que foram soltos na natureza têm boas combinações genéticas e grandes chances de criarem ali uma população geneticamente saudável”, explicou Silvia.
Monitoramento
Desde a soltura, o trabalho de monitoramento da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) tem sido fundamental para compreender os processos de adaptação dos animais ao local. Após estudo prévio, especialistas identificaram a compatibilidade da área para a permanência e constituição familiar da espécie.
É necessário acompanhar os animais na mata por, no mínimo, um ano. As visitas são mais frequentes nos primeiros três meses, depois vão sendo reduzidas gradativamente. A bióloga da AMLD, Andreia Martins, explica como funciona esse trabalho no campo.
“O que nós estamos fazendo é localizar cada grupo e ver a composição, se continua a mesma ou teve alguma mudança. Ou seja, o monitoramento após soltura é para sabermos o índice de sobrevivência, se eles continuaram juntos ou se separaram, se nasceram filhotes, se se adaptaram à nova área, se já definiram territórios, onde estão dormindo e se estão encontrando alimento”, destacou a bióloga.
Andreia Martins participou da primeira reintrodução da espécie na década de 1970, quando o mico-leão-dourado chegou a apenas 200 indivíduos na natureza e quase entrou em extinção. Hoje, a estimativa é de 4.800 micos habitando a região. Em toda a Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado há 28 grupos monitorados.
Além de monitorar o comportamento, o trabalho, inclui ainda a coleta de dados, como o quantitativo de micos. Das seis fêmeas soltas em Macaé, quatro estavam prenhes. Porém, a equipe de monitoramento não avistou mais os filhotes de um dos casais que nasceram três dias após a primeira soltura.
É muito comum o nascimento de gêmeos nessa espécie, por isso, a expectativa da equipe é ver em breve, o aumento das famílias de micos na floresta. Os grupos normalmente têm uma fêmea reprodutiva e uma prole de até três filhotes. A gestação dura aproximadamente quatro meses.
Comportamento

Evidências de comportamento sugerem que micos-leões-dourados são monogâmicos. Além disso, são cooperativos, ou seja, todos os adultos do grupo ajudam a prover comida para os filhotes e a carregá-los. A maioria dos micos deixa seu grupo natal entre os 3 e 4 anos de idade para buscar um parceiro e formar seu próprio grupo. Cada grupo de micos-leões-dourados precisa de um território de 50 hectares para buscar alimento e se desenvolver.
A reintrodução dos micos-leões-dourados foi coordenada pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) e ocorreu de forma integrada entre diferentes instituições, como o próprio CPRJ, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ ICMBio-MMA), o Zoológico Municipal de Guarulhos, o Zoológico de São Paulo, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e a Prefeitura de Macaé.
O monitoramento tem sido feito com o apoio do Projeto GEF Áreas Privadas Conservando Biodiversidade em Paisagens Rurais coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O projeto apoia também ações de restauração ecológica, agroecologia, ecoturismo, educação ambiental e gestão territorial da paisagem.
Sobre o GEF Áreas Privadas
O Projeto GEF Áreas Privadas – Conservando Biodiversidade em Paisagens Rurais é coordenado tecnicamente pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), financiado pelo Global Environment Facility (GEF) e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sua gestão financeira é realizada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Na Mata Atlântica, o projeto é coexecutado pela Associação Mico Leão Dourado (AMLD) e no Cerrado pela Fundação Pró Natureza (Funatura). Os principais objetivos são contribuir para a conservação da biodiversidade, fortalecer a provisão de serviços ecossistêmicos e ampliar o manejo sustentável da paisagem, em áreas privadas no Brasil.