VIII Fórum do Caminho dos Veadeiros reforça avanços da RedeTrilhas em conservação, participação social e desenvolvimento territorial
Encontro consolidou diretrizes para fortalecer conservação, turismo comunitário e governança do Caminho dos Veadeiros até 2027
O VIII Fórum do Caminho dos Veadeiros, o maior encontro anual dedicado à trilha, às comunidades e às redes de cooperação que a sustentam, recebeu cerca de 80 participantes por dia entre 4 e 7 de dezembro, em Cavalcante (GO). Os resultados reafirmam que a política pública da RedeTrilhas — que integra trilhas emblemáticas como o Caminho dos Veadeiros e o Caminho dos Goyazes — está entregando conservação, engajamento social e desenvolvimento sustentável nos territórios.
O evento reuniu gestores, lideranças comunitárias, pesquisadores e voluntários em uma programação diversa — cinco mesas-redondas, oito palestras, duas oficinas participativas de planejamento, uma capacitação sobre Leave No Trace, uma oficina de sinalização e vivências culturais. As atividades contribuíram para aprimorar o uso público da trilha, fortalecer o turismo comunitário e integrar conservação, cultura e geração de renda na região.
Samuel Schwaida, analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) destacou que o modelo de governança observado no Caminho dos Veadeiros demonstra, na prática, o potencial das trilhas de longo curso como política pública nacional:
“O fórum mostra a força do trabalho coletivo envolvendo usuários, proprietários, gestores públicos e pesquisadores. Essa cooperação permite implementar trilhas que funcionam como ferramentas de conservação, conectividade da paisagem, geração de emprego e renda e recreação. É um modelo que queremos ver replicado em todo o Brasil, com comunidades cada vez mais envolvidas no planejamento, na decisão e na gestão do uso público.”
Intercâmbio de experiências e agendas comuns

O Fórum promoveu o intercâmbio entre atores de diferentes regiões do Brasil, compartilhando aprendizados sobre governança e gestão de trilhas em diferentes estágios de maturidade da política pública.
A presença ativa de comunidades tradicionais, principalmente de mulheres, e a participação massiva de guias da região trouxeram para o debate os impactos positivos da trilha sobre a cultura local e a geração de renda.
“Uma trilha de longo curso de centenas de quilômetros não se faz com apenas uma pessoa. Quando existe uma rede de colaboradores — pessoas físicas, instituições públicas e privadas — cada ator cumpre seu papel. Os gestores das unidades de conservação são fundamentais, porque essas áreas são núcleos das trilhas; os pesquisadores geram dados que orientam o manejo; e as comunidades locais assumem serviços de receptivo, guiamento e manutenção. É assim que a trilha se fortalece de baixo para cima, destacou Schwaida.”
Planejamento para os próximos passos
O encontro estruturou diretrizes para o biênio 2026–2027, com foco em:
- implementação e qualificação do uso público da trilha
- conservação da biodiversidade ao longo do percurso
- fortalecimento da comunicação e da mobilização territorial
Essas agendas foram consolidadas de forma participativa e multissetorial.
No Fórum: diálogo, planejamento e construção coletiva

Os dois primeiros dias de programação ocorreram na Casa do Aprendiz e foram dedicados a debates sobre conservação e biodiversidade, turismo de natureza e bem-estar, sinergias territoriais, conduta consciente e experiências de gestão de trilhas de longo curso no Brasil. A participação das mulheres Kalunga teve papel central nos painéis sobre turismo de base comunitária, destacando a ancestralidade como um valor do território. Paralelamente, a Feirinha Kalunga reforçou o protagonismo econômico local, evidenciando como a trilha movimenta a economia e fortalece a autonomia das comunidades.
Ao longo do Fórum, também foram realizadas atividades de planejamento reservadas a atores-chave da governança, com o objetivo de aprimorar o Plano de Ação Anual do Caminho dos Veadeiros. Nessas oficinas, foram definidas prioridades relacionadas à segurança dos usuários, qualificação da sinalização, estratégias de monitoramento e fortalecimento da articulação comunitária.
Durante as tardes, os debates ampliaram o olhar para temas como sociobiodiversidade, empreendedorismo comunitário, conservação da fauna do Cerrado e mobilização territorial no Mosaico Veadeiros–Paranã. Paralelamente, foram discutidas ações em desenvolvimento, incluindo o fortalecimento da governança colaborativa da trilha, melhorias contínuas de sinalização e segurança, capacitações para guias e agentes comunitários, incentivo a produtos turísticos sustentáveis, iniciativas de comunicação e educação ambiental e a integração entre comunidades e instituições públicas.
Estruturação do Caminho: o que o GEF Áreas Privadas vem fortalecendo
Na Chapada dos Veadeiros, o Projeto GEF Áreas Privadas trabalha diretamente para consolidar o Caminho dos Veadeiros como referência nacional em turismo regenerativo, conectando conservação, geração de renda e valorização cultural.
Para Pedro Bruzzi, superintendente executivo da Funatura, o Caminho dos Veadeiros demonstra que, quando comunidades, gestores públicos e organizações se articulam, os resultados chegam ao território.
“Com o apoio do Projeto GEF Áreas Privadas, estamos estruturando o uso público da trilha, promovendo capacitações, fortalecendo a governança e qualificando a experiência do visitante com mais segurança e sinalização adequada. É uma agenda que gera renda, promove conservação e amplia o reconhecimento do Cerrado como patrimônio natural e cultural. Esses impactos são fruto de uma rede colaborativa que acredita no futuro sustentável da Chapada,” ressalta Bruzzi.
Vivências de campo e boas práticas

As atividades práticas do Fórum ocorreram na Reserva Bacupari e no Parque Municipal LavaPés, com:
- oficina de sinalização com marcenaria
- caminhada técnica no Caminho de Santana
- formação Leave no Trace – Trainer Level 1
As ações reforçaram a conduta consciente e o uso público responsável do território.
O domingo celebrou o trabalho das brigadas voluntárias, do ICMBio e do Prevfogo, ressaltando o papel essencial dessas forças no combate aos incêndios florestais que ameaçam o Cerrado.
Encerramento com cultura e pertencimento
A apresentação de Sussa do Grupo Flores e Frutos do Quilombo Kalunga marcou o encerramento, evidenciando que o Caminho dos Veadeiros é também expressão de memórias, histórias e modos de vida que mantêm vivo o Cerrado e fortalecem o vínculo das comunidades com o território.
Caminho dos Veadeiros e RedeTrilhas
O Caminho dos Veadeiros integra a Política Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas), estratégia federal que fortalece o turismo sustentável, orienta padrões de sinalização, qualificação profissional e gestão integrada da paisagem.
O percurso conecta Formosa a Cavalcante, passando por Água Fria de Goiás, São João d’Aliança, Alto Paraíso e Colinas do Sul, acompanhando o relevo da Serra Geral do Paranã e revelando a diversidade ambiental e cultural da Chapada dos Veadeiros. São aproximadamente 480 km liberados para visitação, que podem ser percorridos a pé ou de bicicleta, conectando atrativos, comunidades e unidades de conservação.
Realização e parceria
O Fórum foi realizado pela Associação Caminho dos Veadeiros (ACV), com apoio da Prefeitura de Cavalcante, Funatura e do Projeto GEF Áreas Privadas – Conservando a Biodiversidade em Paisagens Rurais, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), financiado pelo Global Environment Facility (GEF) e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A gestão financeira é realizada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e a coexecução no Cerrado pela Fundação Pró-Natureza (Funatura).