Projeto GEF Áreas Privadas promove debates sobre sociobiodiversidade e conservação do Cerrado em Brasília
O Projeto GEF Áreas Privadas, realizou, em Brasília (DF), um ciclo de mesas temáticas durante o XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado. A iniciativa reuniu representantes de comunidades tradicionais, organizações da sociedade civil, gestores públicos e pesquisadores para discutir estratégias de conservação e valorização da sociobiodiversidade no Cerrado.
O objetivo foi oferecer diálogo entre ciência, comunidades tradicionais e políticas públicas. Os debates trouxeram como temas os eixos temáticos trabalhados pelo Projeto GEF Áreas Privadas – Conservando Biodiversidade em Paisagens Rurais, coordenado pela Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) (SBIO/MMA).
O projeto executa ações de conservação e desenvolvimento rural sustentável na Área de Proteção Ambiental (APA) de Pouso Alto, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, sendo coexecutado pela Fundação Pró-Natureza (Funatura) na região. A APA é considerada uma área prioritária para conservação devido à sua importância biológica que abriga muitas espécies endêmicas e 45 ameaçadas de extinção.

Cadeias da Sociobiodiversidade do Cerrado
A primeira mesa tratou dos desafios e oportunidades das cadeias produtivas do Cerrado, com foco no ganho de escala, inserção no mercado e contribuição para a conservação ambiental e inclusão social.
A diretora do Departamento de Gestão Socioambiental e Povos e Comunidades Tradicionais do MMA, Cláudia Pinho, destacou a importância do diálogo entre as comunidades e outros setores da sociedade:
“O fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade é um caminho essencial para integrar conservação, geração de renda e valorização cultural. Esses espaços de diálogo permitem que comunidades, empreendimentos e governo construam juntos soluções que ampliam os resultados da Rede Sociobiodiversidade e conectam políticas públicas à realidade dos povos e territórios do Cerrado”.
O debate destacou a relevância de produtos como o baru e o pequi, além do papel das cooperativas no fortalecimento da economia local. Dionete Figueiredo, diretora da Cooperativa de Agricultura Familiar Sustentável com Base em Economia Solidária (COPABASE), ressaltou que o trabalho das cooperativas vai além da produção:
“As cooperativas do Cerrado são instrumentos de resistência e de futuro. Quando organizamos a produção, mostramos que é possível gerar renda, conservar o bioma e dar visibilidade ao trabalho das comunidades. O fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade é também o fortalecimento da nossa autonomia”.
Ecoturismo no Cerrado e Comunidades
A segunda mesa discutiu o ecoturismo como estratégia para conectividade, desenvolvimento sustentável e conservação do Cerrado. O debate contou com a presença do diretor do Departamento de Áreas Protegidas (DAP/SBIO/MMA), Pedro Cunha e Menezes e com a participação de representantes de comunidades tradicionais e de iniciativas cerratenses de fomento ao turismo comunitário.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima apresentou a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade – RedeTrilhas, destacando sua proposta de conectar paisagens e biomas por meio de rotas que promovem o chamado “turismo lento”, fortalecendo a conectividade ecológica e a criação de corredores ambientais. A política, de caráter voluntário e por adesão, respeita a autonomia dos territórios e tem como meta oferecer uma trilha até 20 km de cada brasileiro.
Segundo Pedro Menezes, “o ecoturismo no Cerrado é um caminho para integrar conservação, fortalecimento cultural e desenvolvimento econômico, com protagonismo das comunidades e respeito ao modo de vida tradicional”.
Além da Rede Trilhas, o analista ambiental do DAP Samuel Schwaida falou sobre a Trilha de Longo Curso Caminho dos Veadeiros, implementada pelo projeto GEF Áreas Privadas, que prevê mais de 500 km de trilhas percorrendo Unidades de Conservação, áreas privadas e comunidades tradicionais, como o Quilombo Capela.
Experiências de turismo de base comunitária foram compartilhadas por representantes do Caminho de Santana (GO), do Povoado Quilombola do Moinho (GO) e do Quilombo Buraquinhos (MG), evidenciando como o turismo pode gerar renda, valorizar a cultura local, manter jovens no território e conter o êxodo rural.
De acordo com João Lino, que atua na implementação do Caminho de Santana, em Cavalcante (GO), o ecoturismo movimentou cerca de R$ 12 milhões por ano, com reflexos em comunidades como o Engenho II, no Quilombo Kalunga, cuja população passou de 80 para 780 moradores em 2023.
Gestão Integrada da Paisagem
A terceira mesa abordou a Gestão Integrada da Paisagem como estratégia central para conservação e conectividade ecológica no Cerrado. O debate enfatizou que as políticas públicas precisam articular unidades de conservação, propriedades privadas, comunidades tradicionais e territórios privados para reduzir a fragmentação, ampliar habitats para espécies ameaçadas e fortalecer a resiliência do bioma.
“O crescente trabalho de integração territorial entre o governo, comunidades e organizações não só amplia a capacidade de conservar áreas-chave do Cerrado, como também fortalece políticas que garantem conectividade ecológica, mitigação de impactos ambientais, justiça territorial e respeito aos saberes locais”, sugeriu Carlos Eduardo Marinello, chefe de gabinete da SBIO/MMA.
O Projeto GEF Áreas Privadas já trabalha com ações concretas de ordenamento territorial, promoção de corredores ecológicos e estímulo à recuperação da vegetação nativa, especialmente na Área de Proteção Ambiental de Pouso Alto (GO). A proposta do Mosaico Veadeiros-Paranã foi destacada como instrumento promissor para integrar esforços de conservação entre áreas protegidas públicas, reservas privadas e comunidades.

Contribuição para políticas públicas
As discussões realizadas em Brasília contribuem diretamente para o alcance das metas da Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade (EPANB) – instrumento orientador para a implementação de metas e ações de conservação da biodiversidade, uso sustentável dos recursos naturais e repartição justa dos benefícios derivados da diversidade biológica para todo o país, com integração de diferentes setores do governo e da sociedade.
A nova EPANB prevê a articulação com outras políticas públicas, como o Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa (Planaveg), que estabelece a meta de recuperação de 12 milhões de hectares até 2030, além de outras políticas e programas, trazendo como norte o alcance dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).
GEF Áreas Privadas
Projeto GEF Áreas Privadas, é coordenado pelo MMA, com financiamento do Global Environment Facility (GEF) e implementação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sua gestão financeira é realizada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).
Na Mata Atlântica, é coexecutado pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) e no Cerrado, pela Fundação Pró Natureza (Funatura). Os principais objetivos são ampliar o manejo sustentável da paisagem, contribuir para a conservação da biodiversidade e fortalecer a provisão de serviços ecossistêmicos em áreas privadas no Brasil.