Pecuária Orientada a resultados reúne governo, ciência e sociedade civil na COP30 para discutir soluções para natureza, clima e economia
O debate sobre “Pecuária Orientada a Resultados: Soluções para Natureza, Clima e Economia”, realizada em uma programação paralela na COP 30, em Belém, no dia 13 de novembro, reuniu representantes do governo federal, instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil para debater como iniciativas baseadas em resultados estão impulsionando uma pecuária mais sustentável na América do Sul.
Representando o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Carlos Eduardo Marinello, chefe de gabinete da Secretaria de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais (SBIO/MMA), destacou o avanço das articulações entre governo e instituições da sociedade civil na construção das bases para o processo de debate de uma futura política nacional de reconhecimento de áreas conservadas, reconhecidas internacionalmente como Outras Medidas Eficazes de Conservação Baseadas em Áreas (OMECs). Ele ressaltou que, fora a Amazônia, 90% dos territórios dos biomas brasileiros estão sob propriedades privadas, muitas delas produtivas, reforçando a importância de integrar produção e conservação.
“Estamos construindo essa política com grande cuidado para evitar riscos de greenwashing. Aprendemos com a experiência internacional que reconhecer áreas conservadas sem critérios rigorosos pode comprometer políticas ambientais. Por isso, estamos debatendo parâmetros sólidos, com a participação de 14 ministérios, para garantir uma regulamentação séria, inovadora e que aproxime Estado, sociedade e setor produtivo na gestão de áreas conservadas.”
Ele destacou, ainda, que o reconhecimento dessa política – que vai considerar áreas conservadas independente de ser pública ou privada – , vai colaborar para combater o racismo ambiental e reconhecer social, cultural e economicamente os grupos e territórios que contribuem para a conservação.
O debate apresentou experiências que unem produção, conservação e ciência — desde o monitoramento produtivo no Pantanal até iniciativas de conectividade e restauração em propriedades privadas. A Coalizão Pontes Pantaneiras, por exemplo, foi destacada por seu trabalho em conectar pessoas, cultura e biodiversidade para promover sustentabilidade no bioma, fortalecendo a colaboração entre diferentes atores.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) apresentou iniciativas voltadas à sustentabilidade econômica, social e ambiental da pecuária. De acordo com Bruno Leite, médico veterinário e coordenador-geral no MAPA, a ampliação da escala de produção sustentável depende de assistência técnica, acesso ao crédito e da integração entre boas práticas agropecuárias e tecnologia.
Leite também destacou o programa AgroBrasil Mais Sustentável, que reúne em uma única plataforma pública, dados ambientais, fundiários e produtivos para apoiar o diagnóstico de propriedades rurais e facilitar o acesso dos produtores a políticas públicas, crédito e certificações. “Ganhar escala de produção passa por um olhar mais atento para a assistência técnica e para o diálogo com o setor privado sobre crédito rural. Cerca de um terço do financiamento vem do Plano Safra e dois terços do setor privado, salientou.”
A pesquisadora Miriam Perilli, da Coalizão Pontes Pantaneiras e do Instituto de Pesquisa Ecológicas (IPÊ), destacou o papel da ciência na definição de indicadores de vegetação, produção e sustentabilidade, ressaltando que é impossível comprovar a sustentabilidade sem dados consistentes. Em sua fala, ela reforçou a importância do monitoramento produtivo e ambiental para validar modelos de pecuária sustentável no Pantanal e em outros biomas brasileiros.
O painel destacou um consenso entre os participantes: a produção sustentável só se consolida quando ciência, engajamento social, políticas públicas e articulação multissetorial caminham juntos.
As instituições apontaram que o Brasil vive hoje uma oportunidade estratégica para avançar na integração entre conservação e produção, impulsionada pelo conjunto de políticas e iniciativas que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima vem estruturando, com a regulamentação de OMECs, a ampliação dos instrumentos de Pagamento por Serviços Ambientais e o Pacto pela sinergia entre as três convenções do Rio. Essas ações, articuladas de forma transversal pelo MMA, reforçam o papel das paisagens como ponto de encontro entre proteção ambiental, desenvolvimento sustentável e resiliência climática.
Crédito: Karoline Diniz
Coordenadora de Comunicação do Projeto GEF Áreas Privadas